Após um choque sem precedentes, a economia global tem em 2021 um ano de recuperação expressiva. O aumento da mobilidade e reabertura das atividades têm sido possibilitados pelo avanço das campanhas de vacinação. Por esse motivo, a retomada não ocorre de forma homogênea ao redor do mundo. Países como Israel, Reino Unido e EUA, os processos de vacinação já cobriram parcelas maiores das populações e, com isso, a reabertura está mais adiantada. Outros, no geral economias emergentes, ainda têm um caminho longo a percorrer antes que possam conter os surtos locais. Apesar das diferenças, o denominador comum é que, dado o ritmo de produção e a disponibilidade esperada das vacinas hoje conhecidas, ao longo dos próximos meses a maior parte do mundo tende a ficar gradualmente mais aberta, e não mais fechada, caminhando para um eventual fim da pandemia – ou pelo menos, de seus efeitos sobre a atividade econômica, que já têm sido menos intensos nas novas ondas do vírus do que nas primeiras. Nesse contexto, o grande risco que ainda paira é o de variantes resistentes a vacinas (algo que, até o momento, não se verificou).
Impulsionada pela reabertura e a presença de elevados estímulos fiscais e monetários, a retomada global resulta em uma recomposição acelerada da demanda e se alia, em maior ou menor escala, a uma série de restrições de oferta para causar pressão sobre os preços de commodities. O quadro atual não é de um mundo que caminha nitidamente para um aumento sustentável de demanda por commodities no pós-pandemia e, por esse motivo, a atual força das cotações parece não ser um novo equilíbrio. No entanto, balanços apertados entre oferta e demanda podem fazer com que tais preços recuem apenas lentamente, e de forma errática.
O pano de fundo traçado acima gera condições favoráveis para o crescimento no Brasil. Além da tendência de redução do isolamento social, o país se beneficia da demanda aquecida e dos preços elevados de commodities, devendo registrar expansão forte do PIB nesse ano. Apesar disto, a economia brasileira sai da pandemia com desafios significativamente maiores do que quando entrou. O crescimento esperado para 2021 não deve ser suficiente para levar o país de volta à trajetória pré-crise, e diante da necessidade de aumento de juros e do elevado risco país, o crescimento em 2022 deve ser insuficiente para permitir uma redução mais sustentada do desemprego.
O front das contas públicas foi, sob uma ótica econômica, um dos mais afetados pela pandemia, e a incerteza a respeito de seus rumos à frente é um dos principais fatores que impedem atualmente que a moeda brasileira tenha apreciação mais significativa. Mesmo com a força das exportações e os juros em alta, a taxa de câmbio deve encerrar esse ano em níveis ainda significativamente mais altos que os registrados antes dessa crise.
No ano que vem, além de provável volatilidade relacionada a dúvidas sobre futuras escolhas no universo das políticas públicas, o real deve conviver com um ambiente global mais desafiador. Isso ocorre porque a retomada acelerada irá resultar eventualmente em retirada de estímulos ao redor do mundo – em especial, nos EUA. O banco central americano deve começar a reduzir os atuais programas de injeção de liquidez no início de 2022, e subir juros no início de 2023. Passado o foco sobre a pandemia, as taxas de câmbio ao redor do mundo (principalmente em mercados emergentes, que se tornam mais atraentes com juros baixos nas economias avançadas) serão cada vez mais sensíveis às perspectivas sobre exatamente como, e quando, tal retirada de estímulos irá ocorrer.
Finalmente, no decorrer desse ano e do próximo, a economia brasileira também deve lidar com taxas de juros mais elevadas que as mínimas recentes. A taxa Selic deve ter novas altas ao longo dos próximos meses, em uma trajetória de elevação que decorre da própria recuperação da atividade econômica, mas também é condicionada pelas pressões sobre a inflação, pelas incertezas atuais e pelo movimento global de aumento das taxas de juros. Apesar de ser um aumento importante, a alta da taxa básica para tais patamares ainda deixará o Brasil com juros historicamente baixos. Mantido o respeito ao arcabouço atual de controle das contas públicas, tal condição deve seguir funcionando como um indutor para investimentos de longo prazo e atividade nos mercados de capitais.