Balanço "pró-forma"
Informativos financeiros pró-forma: o passado “passado” a limpo
Balanço pró-forma
Um Balanço é um inventário da situação financeira de um negócio em uma data específica. Ou seja, o Balanço é uma “fotografia”: representa o que a empresa possui e o que a empresa deve em uma determinada data.
A maior parte dos negócios agrícolas no Brasil não está constituída como empresa, porém esses negócios agrícolas precisam ser vistos e examinados como empresas, e para isso precisamos desta fotografia – precisamos gerar Balanços e analisá-los.
Quando tiramos a “foto” e fechamos um Balanço? Podemos fazer esse inventário do que a empresa possui e do que ela deve em 31 de dezembro de cada ano. Ou numa data que represente um fechamento de safra, como 30 de setembro ou 30 de abril. O que for mais fácil e deixar a situação mais clara para a gestão do negócio.
De toda forma é preciso escolher uma data para fazer o levantamento de todos os valores de bens e direitos da empresa, e também de endividamento que a empresa tem com terceiros.
Todos os bens e direitos de uma empresa (que inclui o que ela tem nos bancos, nos armazéns, nos campos, máquinas e benfeitorias e suas terras próprias) são chamados de Ativos.
Os Ativos formam uma banda, um lado do Balanço. O outro lado é formado pelos Passivos.
Os Passivos incluem todas as dívidas com terceiros - contas a pagar a fornecedores, saldos devedores de cartões de crédito, adiantamentos, Barter, dívidas contraídas por compra de terras e outros imobilizados, empréstimos bancários e qualquer outro tipo de saldo devedor.
Os Passivos incluem também o valor que os sócios mantêm em capital neste negócio: trata-se do Patrimônio Líquido (PL).
Uma palavrinha sobre Patrimônio Líquido
Patrimônio líquido tem esse nome por refletir o que sobraria para os donos da empresa se ela liquidasse todos os ativos e todas as dívidas: o que sobra líquido para os sócios.
Ou seja, Patrimônio líquido não significa terras, benfeitorias, carros, etc... nem tem valor parecido com o dessas coisas todas (apenas seria uma pura coincidência se os valores do P.L. batessem com os do imobilizado).
Patrimônio líquido é o valor que os donos têm na empresa.
Patrimônio Líquido
O Balanço tem este nome porque suas duas bandas, seus dois lados, precisam estar balanceados: Ativos e Passivos têm necessariamente o mesmo montante.
Na montagem de um primeiro Balanço pró-forma compilamos os ativos e compilamos o endividamento com terceiros. Depois disso, por diferença entre ativos e endividamento com terceiros, chegamos no Patrimônio Líquido. Porém, nos anos seguintes, não fazemos mais este cálculo por diferença: uma vez descoberto o PL no primeiro ano, a partir daí ao PL do ano anterior somamos o lucro ou prejuízo realizado que tenha ficado retido no negócio.
Se os sócios de uma empresa fazem retiradas acima do seu salário regular, do seu pró-labore, consideramos que esses montantes adicionais sejam subtraídos dos lucros. Fica retido na empresa o lucro menos as retiradas adicionais dos sócios. Chamamos essas retiradas adicionais de dividendos.
Os lucros retidos na empresa, após retiradas adicionais dos sócios, vão compor o Patrimônio Líquido dali para a frente. Na medida em que os sócios retiram boa parte do lucro, eles comprometem o crescimento do Patrimônio Líquido e o crescimento sustentável da empresa.
Deste modo, as retiradas dos lucros precisam ser calibradas para permitir que o Patrimônio Líquido siga engordando e gerando lastro para o crescimento do negócio
Exemplo de Balanço Patrimonial
2.1 Como examinar o Balanço Patrimonial?
O Balanço Patrimonial existe para ser examinado e para ser comparado de período a período, safra a safra. Há duas frentes de análise a partir de uma série de balanços de um negócio:
· As proporções dos componentes desse balanço;
· De onde o caixa está vindo e como ele está sendo empregado.
Vamos explicar as duas análises, começando pelo exame das proporções das partes do Balanço. Esse exame nos permite identificar se estamos com um bom equilíbrio financeiro.
Há um aspecto que precisa ser entendido antes de conduzirmos um exame de Balanço: o fator tempo, cronológico, na ordem das contas no Balanço. A ordem das contas obedece ao tempo que elas vão demorar para girar, acontecer, realizar-se.
As contas que devem girar mais rapidamente, são colocadas na parte superior de um Balanço. Quanto mais rapidamente espera-se o giro de uma conta, mais alto ela deve estar na apresentação dos números.
Por exemplo: saldo bancário tende a ser a primeira conta entre os Ativos. Contas a pagar a fornecedores tende a ser a primeira conta que aparece entre os Passivos.
As contas que devem demorar muito a girar, são colocadas na parte inferior. Por exemplo: o valor imobilizado em terras tende a ser a conta apresentada por último entre os Ativos. O capital dos sócios, o Patrimônio Líquido, tende a ser a última conta apresentada no Passivo.
Outra divisão importante a ser observada num balanço está na banda do Passivo: as primeiras contas indicam o capital que terceiros empataram no negócio, e são representadas por: Contas a Pagar, Financiamentos, Dívidas, Adiantamentos, Barter.
Já as últimas contas representam o capital que os sócios empataram no negócio, e que está acumulado no Patrimônio Líquido.
Vamos iniciar pela relação entre Ativos e Passivos de Curto Prazo.
2.2 A liquidez corrente
Aproveitando a regra de tempo de giro na ordenação das contas, podemos dividir o Balanço em fatias:
· Uma fatia de curto prazo (Circulante);
· Uma fatia de longo prazo.
O período de corte ficou convencionado em 12 meses a partir da data do Balanço. Ou seja: as contas que giram dentro do período de 12 meses seguintes são colocadas no topo e recebem a classificação de Circulante. As outras vão ficar mais para baixo e serão classificadas como de Longo Prazo.
A observação da fatia de curto prazo nos permite verificar se os compromissos que vencem no período de 12 meses podem ser saldados com tranquilidade, através das contas que geram caixa também no curto prazo.
Isso é chamado de Liquidez Corrente.
2.2.1 Exame da Liquidez
Tomamos o Balanço e colocamos Ativos e Passivos lado a lado, e focamos nas suas partes superiores: as contas de curto prazo ou circulantes. Focamos no total de Ativos Circulantes e no total de Passivos Circulantes.
Os Ativos Circulantes representam as contas que devem gerar caixa nos próximos 12 meses: sejam os recursos que já temos nos bancos, sejam os estoques de produtos que poderemos vender e realizar em pouco tempo, ou mesmo as lavouras e gado, que dentro do ano seguinte produzirão e nos gerarão caixa. De forma resumida Ativos Circulantes são o que temos nos Bancos, nos Armazéns e nos Campos.
Os Passivos Circulantes representam nossas dívidas e compromissos que precisam ser saldados nos próximos 12 meses.
Esperamos que os Ativos Circulantes sejam mais volumosos que os Passivos Circulantes, pois isso nos dá folga para cumprir compromissos que vencem nos 12 meses seguintes. Essa folga é camada Liquidez Corrente.
A Liquidez dá ao negócio tranquilidade para operar, sem preocupação com um caixa apertado, com as contas que vencem a cada dia. Com essa tranquilidade, com reservas para negociar compras à vista e vendas com prazo, as atividades comerciais da empresa tendem a ser mais eficientes: há poder de negociação.
Uma empresa sem liquidez drena a atenção da gestão para a busca de recursos para quitar compromissos, não permite folga e tranquilidade para venda da produção.
Uma empresa ilíquida (sem liquidez) acaba forçada a vendas urgentes, a compras com prazos onerosos, a cortes agressivos de custos, a atrasos sujeitos a custos financeiros, a um custo financeiro mais alto.
Além de poder de negociação comercial, a liquidez traz tranquilidade para períodos de baixos preços, ou para enfrentamento de anos de frustração de safra.
A figura abaixo representa a Liquidez.
A composição da Liquidez importa, pois caixa e estoques de produção pronta e desimpedida tem muito mais valor na composição da liquidez do que uma lavoura em formação, ou um gado ainda a ser engordado, por exemplo.
Caixa em reserva em bancos é crucial e deve ser mantido num nível equivalente a três ou quatro meses de despesas correntes (três ou quatro meses de despesas de folha de pagamento, energia, telefonia, combustíveis, peças de reposição).
Entretanto, em períodos em que o ambiente de negócios é permeado por grandes riscos, é recomendável que o nível de reservas aumente.
Lembre-se: Caixa é rei! Mantenha reservas em caixa.
Na imagem abaixo há uma sugestão de reserva de caixa miníma (3x despesas correntes mensais).
2.3. A Solvência
Outro equilíbrio relevante dentro do Balanço que encontramos examinando o lado do Passivo: trata-se da relação entre o capital próprio e o endividamento. Ou seja, a relação entre Patrimônio Líquido e Dívida: a chamada Solvência.
Uma empresa precisa de tanta Solvência quanto maior for o seu nível de risco. Empresas com resultados muito voláteis – resultados com altos e baixos – seja por que têm baixa gestão de riscos e/ou porque estão expostas a mercados muito voláteis, precisam ter uma estrutura de capital com muito mais capital dos sócios e bem pouco endividamento.
Empresas que amarram bem seus riscos, utilizando estratégias, processos e ferramentas como: casamento entre preços e custos, contratos comerciais, casamento cambial entre entradas e saídas de caixa, liquidez, reservas de caixa, proteção cibernética, foco no negócio agropecuário, diversificação regional, passo de investimentos sustentável, gestão ambiental, entre outros, podem alavancar um pouco mais e crescer mais rapidamente.
Empresas com baixa amarração de riscos não podem se alavancar muito, mantendo uma estrutura de capital preponderantemente recheada de Patrimônio Líquido. Alguns setores do agronegócio tendem a apresentar volatilidade alta, como:
· Hortaliças, fruticultura, floricultura, feijão, que são setores com grande variação na produção sazonal, demanda relativamente estável e, em geral, sem mecanismos de precificação antecipada.
A dívida somada ao Patrimônio Líquido representa 100% do Passivo total, pois o total da empresa é financiado em parte por terceiros e em parte pelos sócios. Dessa forma, endividamento com terceiros e com capital próprio necessariamente somam 100% num balanço. E através dessa proporção temos uma forma de representar a Solvência.
A Solvência precisa ser monitorada anualmente com o objetivo de mantermos a proporção entre endividamento e capital próprio compatível com o nível de risco, ou de volatilidade do negócio.
Conforme a volatilidade a que o negócio estiver exposto, e conforme o nível de gestão de riscos que for imposta a esse negócio, necessitaremos de mais ou menos Solvência.
A imagem abaixo traz um gráfico de três eixos: volatilidade de mercado, gestão de riscos e solvência (70:30, 50:50, 30:70).