Demonstrativo de Resultado pró-forma
Informativos financeiros pró-forma: o passado “passado” a limpo
Importância do DRE
Temos algumas possibilidades aqui para gerar esse demonstrativo. O caminho depende de como a sua empresa apura resultados atualmente:
· Alternativa I
Se a empresa tem um sistema contábil que pode trabalhar lançamentos em regime de competência, e já faz lançamentos contábeis de todos os seus apontamentos, então ela está em condições de gerar um demonstrativo de resultado, mesmo que gerencial. Para isso, basta acionar o módulo contábil - acione o fornecedor do sistema e solicite que o relatório Demonstrativo de Resultados (DRE) seja gerado.
· Alternativa II
Outra possibilidade para gerarmos bons relatórios contábeis seria que o escritório de contabilidade terceirizado, que organiza a declaração de renda para apuração de impostos, também aproveite os lançamentos, mas utilizando o regime de competência em partida dobrada (mesmo se você não entender muito bem como isso poderia funcionar, seguramente os contadores conhecem bem e fazem isso para todos as outras empresas fora da agricultura).
Uma vez que já há manipulação de documentos e lançamentos para a declaração de impostos, a empresa de contabilidade pode aproveitar e também lançá-los de forma a apurar o conjunto completo de relatórios contábeis.
Naturalmente que, se o negócio estiver numa base de pessoas físicas, este demonstrativo não será usado para apuração de imposto de renda. Mas ele tem valor gerencial, pois ele compila resultados que nos permitem analisar o desempenho do negócio.
· Alternativa III
Se a empresa não utiliza um sistema contábil para integrar lançamentos de todos os apontamentos de sua operação e o contador atual prefere apenas envolver-se com o cálculo do Imposto de Renda, então partimos para a montagem manual (em Excel) de um Demonstrativo de Resultados (DRE) pró-forma.
O DRE representa a receita das vendas que ocorreram no ano, o custo da produção vendida, as despesas de comercializar e administrar essa produção, e todas as outras despesas envolvidas no negócio, de forma a apurarmos o resultado final: seja lucro ou prejuízo.
Fazemos essa apuração em etapas, pois cada etapa nos conta uma parte da história do ano e nos permite análises para a adequação de rumos:
• Etapa 1: Apurar o resultado operacional: o EBITDA gerado;
• Etapa 2: Apurar o resultado antes de imposto de renda;
• Etapa 3: Identificar a "última linha" se houve: lucro ou prejuízo;
1.1 Como juntar os números para formar uma DRE pró-forma?
Para formarmos um Demonstrativo de Resultados pró-forma iniciamos pela receita, que é o faturamento do ano: ou seja, são os produtos vendidos durante o ano.
Não fazem parte da receita vendas de terra ou outras propriedades, entradas de financiamento, nem a receita financeira. A receita financeira vai entrar somente após a parte operacional, junto com as despesas financeiras.
Portanto, apuramos a receita através da soma de todos os faturamentos de produção vendida no ano, deduzidos dos impostos relacionados à comercialização, como Funrural, Fethab, etc. Além disso, dependendo da estratégia de gestão de riscos da empresa, pode haver receitas por recebimento de indenização de seguro agrícola e por recebimento de margem de ajuste ou de exercício de opção de operações de hedging. Estes valores são complementos da receita obtida e podem fazer parte de uma receita ajustada.
Em seguida, vem a vez dos custos de produção, os custos dos produtos que foram vendidos. São os custos de campo, operação, comercialização e de manutenção. Na falta de uma contabilidade, os dados usados para declaração de imposto de renda, ou as saídas de caixa relacionados a despesas de produção são uma boa fonte de dados para compilarmos os custos de produção.
Na sequência, temos as despesas gerais, administrativas e de arrendamento, cujas quais servem ao conjunto do negócio: não são específicas ou associadas a nenhuma atividade.
Por exemplo, são as despesas de supervisão, controle, assistência, manutenção geral, escritório, contabilidade, segurança, imposto predial, energia elétrica, telefonia, refeitório, seguros gerais e arrendamento.
Devemos incluir também nas despesas administrativas os salários ou a remuneração pagos a membros da família pelo seu trabalho no negócio.
Repare bem que entre as despesas gerais não há pagamentos de financiamentos, nem pagamentos por terras e compras de outros imobilizados. Também não incluímos despesas financeiras.
Todas as receitas e todas as despesas até esse ponto são estritamente reflexo de operações reais envolvendo caixa - não se inclui nada que realmente não tenha acontecido como operação transacionando caixa: não se inclui depreciação, nem custos de oportunidade, nem remuneração sobre capital próprio.
1.2 Apurando o Resultado Operacional, ou EBITDA, do ano
Agora estamos prontos para apurar o resultado operacional, ou EBITDA, pois já compilamos o faturamento do ano, os custos de produção e as despesas gerais administrativas e de arrendamento.
O resultado das receitas menos essas despesas é o resultado operacional, ou EBITDA (Earnings before taxes, interest, depreciation and amortization). Em português LAJIDA (Lucros abtes de juros, impostos, depreciação e amortização).
1.2.1 Mas o que é resultado operacional?
Trata se do resultado de caixa gerado puramente pela operação agropecuária, sem interferência do nível de financiamento, de efeitos de imposto de renda ou de eventos não-caixa, como depreciação, exaustão de lavouras perenes, custo de oportunidade do trabalho ou do capital.
Mais especificamente, trata-se do resultado obtido a partir das vendas da produção de uma safra, subtraído das despesas de campo, das despesas de administração, das despesas gerais e dos custos de arrendamento.
1.2.2 Porque é importante apurar o EBITDA?
O EBITDA é um indicador que tem importância em duas frentes de gestão:
Vamos iniciar pela frente do comparativo de eficiência, que se utiliza do fato do EBITDA ser um resultado que pode ser comparado entre operações agropecuárias semelhantes, pois sua metodologia é universal: sem influência de custo da dívida e de planejamento tributário.
Desta forma, ele permite medir eficiência operacional e comercial entre empresas diferentes, independentemente dos níveis de financiamento, carga tributária, ou regime de depreciação.
Quando comparamos o EBITDA realizado com o EBITDA de negócios semelhantes, e apuramos que este é igual ou melhor que o apresentado pelos melhores concorrentes, temos um importante indicativo do potencial competitivo do negócio.
Um negócio que, ano após ano, apresenta EBITDA em níveis menores que o dos concorrentes tem deficiências competitivas: seja por problemas de produtividade, logística, qualidade ou por deficiências na área comercial.
Portanto, o EBITDA é um indicador chave de competitividade, e baixos níveis de EBITDA por vários anos indica que precisamos fazer uma revisão geral do negócio: atividades, produtividade, uso e custo de insumos, qualidade, mercado. Enfim, o modelo de negócio precisa ser revisto.
Como vimos na 1ª Estação, normalmente se usa EBITDA/ha ou EBITDA% da receita para essas comparações entre negócios semelhantes. Na imagem abaixo, observa-se um benchmarking de EBITDA de atividades agrícolas baseado em casos reais.
Adicionalmente a servir de indicador de eficiência operacional, o EBITDA, ou Resultado Operacional, é utilizado como indicador da sustentabilidade do endividamento em um negócio.
Partimos do princípio de que, o endividamento num negócio sustentável deve ser pago pela própria operação, e não por tomada de mais dívida, ou por busca de mais capital dos sócios, nem por venda de imobilizado. Então monitora-se a relação entre endividamento e EBITDA e a relação entre EBITDA e despesas financeiras e amortizações de dívidas de longo prazo.
Essas relações estão representadas através de dois indicadores:
· Alavancagem Financeira Operacional, na qual o endividamento não pode ser muito superior a alguns anos de geração de EBITDA;
· Capacidade de Pagamento do Serviço da Dívida, na qual o EBITDA deve ser capaz de cobrir, com folga, o total de despesas financeiras e de pagamento de parcelas de financiamentos de longo prazo.
Veremos com detalhes esses dois indicadores um pouquinho mais adiante!
1.3 Apuração de Lucro
Após a apuração do EBITDA, podemos terminar o demonstrativo de resultados chegando até o lucro.
Nesta fase, compilamos as receitas e despesas financeiras: receitas de juros recebidos por aplicação financeira, despesas com juros sobre financiamentos, tarifas bancárias e tarifas de estruturação de operação financeira.
Não fazem parte de receitas e despesas financeiras desembolsos nem amortizações de financiamentos. Entram em receitas e despesas apenas os juros recebidos e pagos. Já os valores tanto de principal desembolsado para a empresa, quanto de repagamento pela empresa vão fazer parte da movimentação dos Passivos, não fazem parte da movimentação de resultados.
Resultados de hedging de operações financeiras podem entrar junto de receitas e despesas financeiras, pois complementam estes resultados, conforme mencionado anteriormente, caracterizando uma receita ajustada.
Outro componente do demonstrativo de resultado é a depreciação: trata-se de uma despesa virtual, não caixa, que representa a perda de valor empatado em máquinas e benfeitorias.
Máquinas, equipamentos, sistemas, instalações são exemplos de imobilizados que perdem valor com o tempo, conforme a sua vida útil. A depreciação é uma representação desta perda de valor durante a respectiva vida útil de cada item imobilizado.
Por exemplo, um equipamento de irrigação tem 20 anos de vida útil: 1/20 do seu valor deveria ser lançado como depreciação a cada ano.
Já um telefone celular tem uma vida útil de 3 ou 4 anos, gerando uma depreciação de 1/3 a 1/4 do seu valor inicial anualmente.
Como a depreciação é apenas uma representação virtual e não houve transação de caixa, não é uma despesa absolutamente necessária num demonstrativo de resultados pró-forma. A depreciação nos dá uma certa ideia da necessidade de reposição de imobilizado a cada ano, mas num demonstrativo pró-forma ela pode ser ignorada, caso isso facilite a geração deste relatório gerencial. Segue abaixo um exemplo de ficha de depreciação.
Por último, lançamos as despesas relacionadas ao pagamento de imposto de renda, e com isso chegamos à linha final do demonstrativo de resultados, com lucro ou prejuízo.
Explicação detalhada de como preencher a planilha de DRE
1.3.1 Qual a diferença entre Resultado Operacional e Lucro?
O resultado operacional, ou EBITDA, revela a qualidade da operação e da sua capacidade de comprar e vender bem. O EBITDA revela se os elementos que compõem o seu modelo de negócio são potencialmente competitivos:
· Localização;
· Eficiência;
· Custo de suprimentos;
· Precificação da produção;
· Custos comerciais e logísticos;
· Estrutura de gestão.
Já o Lucro revela como a gestão tem lidado com alavancagem financeira e planejamento tributário, pois ele tem influência de decisões e lançamentos não-caixa:
· Depreciação de máquinas e benfeitorias;
· Exaustão de lavouras perenes e semi-perenes;
· Amortização de intangíveis (como marca, prêmios pagos na aquisição de uma empresa, ou amortização do valor de um banco de germoplasma, por exemplo).
1.3.2 Porque é importante apurar o lucro?
O Lucro (ou o prejuízo, quando o resultado é negativo) indica a capacidade da empresa em cobrir todas as suas despesas, como com: produção, vendas, financeiras, tributárias e até mesmo a perda de valor do seu imobilizado.
Na medida em que apuramos o lucro e retemos parte dele no negócio (evitando distribuir todo resultado aos sócios), o capital da empresa vai se avolumando, permitindo crescimento.
Uma empresa que apresenta lucros sucessivamente, ano após ano, tende a ser uma empresa com potencial de crescimento. Já um negócio que apresenta lucro muito pequeno, ou que apresenta sucessivos prejuízos, não pode investir e crescer de forma sustentável.
Apurar o montante em lucro é também importante para que possamos verificar o retorno obtido pelos sócios no negócio: os sócios capitalizaram o negócio, tomaram diversos riscos por estarem expostos a esse negócio, e merecem um retorno comparável a outros investimentos de mesmo nível de risco.
Para verificarmos se o retorno sobre o capital dos sócios é compensador, precisamos apurar o valor do lucro. Por isso, por exemplo, é preciso repensar um negócio que gere lucro e retorno sobre o capital dos sócios muito próximo a zero ou negativo.
Assim, esperamos ter esclarecido os pontos fundamentais sobre o DRE e agora partiremos para o segundo relatório fundamental para a gestão do negócio: o Balanço Patrimonial.