Manejo Integrado de Riscos
Da mesma forma que na condução de uma lavoura, na condução de um negócio precisamos constantemente buscar e manter um estado de equilíbrio.
A lavoura enfrenta vários riscos de pragas e doenças, e um bom manejo busca manter estes riscos sob controle, dentro de um custo razoável, e evitar que na busca de controlar um risco, que se aumente outro. Para um bom manejo da lavoura é preciso integrar as soluções.
Com os demais riscos do negócio – financeiro, ambiental, tributário, trabalhista, cibernético, cambial, entre tantos outros - devemos proceder da mesma forma.
O Manejo Integrado de Pragas (MIP) oferece um bom exemplo de como conduzir o manejo integrado dos outros riscos. No MIP, o primeiro passo envolve o reconhecimento das pragas, saber diferenciar uma lagarta medideira, uma falsa medideira, um trips, uma cochonilha, uma broca.
O segundo passo envolve definir o nível de infestação que nos vai levar agir para controla-la. Por exemplo, não vamos intervir num canavial se encontrarmos apenas uma broca ou duas, mas se encontrarmos uma média de quatorze por armadilha, seguramente partiremos para o controle da broca.
O terceiro passo envolve o monitoramento das pragas, sua contagem. Enviamos “pragueiros” para supervisionar os campos semanalmente para que produzam relatórios do monitoramento. Baseado nesses relatórios e nas demais condições do campo que definimos as ações de controle.
O quarto passo envolve o controle propriamente dito. As ações de controle vão diferir conforme o nível de infestação, o custo do dano e as possibilidades de um controle natural.
De toda a forma, buscaremos conduzir todo o ambiente da lavoura, e as demais práticas culturais, para reduzir naturalmente a probabilidade de infestação, a probabilidade do risco. Estes passos e esta abordagem coincidem perfeitamente com o que chamamos de Manejo Integrado de Risco.
Manejo Integrado de Risco
O Manejo Integrado de Risco no negócio agropecuário
Vamos considerar alguns princípios antes de nos atirarmos a abordagem técnica:
· Só se controla aquilo que se reconhece;
· Só se administra aquilo que se mede;
· Só se corrige um problema quando se corrige o conjunto.
Manejo integrado de riscos está baseado nesses pontos acima e envolve os passos a seguir.
O primeiro passo para um manejo integrado de risco apropriado é reconhecermos os riscos aos quais o nosso negócio está sujeito.
Preparamos uma lista de riscos tradicionais no agronegócio, ordenados por uma possível ordem de importância, levando em conta a probabilidade de ocorrência de cada risco e o tamanho do seu impacto. Porém, cada negócio tem suas particularidades, suas condições de mitigação de risco e essa lista pode não estar numa ordem adequada - riscos pouco importantes para um determinado negócio, podem ser muito importantes para outros negócios.
Nem todos esses riscos precisam ser acompanhados de perto, porém precisam ser percebidos e bem entendidos:
· Produtividade;
· Preços;
· Descasamento cambial;
· Descasamento da relação de troca;
· Liquidez (caixa apertado para cumprir compromissos);
· Financeiro (por excesso de endividamento);
· Refinanciamento (Bancos não renovam as linhas);
· Mudanças climáticas;
· Falta de liquidez para completar margeamento (hedge);
· Ambiental;
· Perda de insumos por roubo ou fraude;
· Orçamento de projeto subestimado;
· Falta de liquidez do produto no mercado;
· Extravio de contratos;
· Contratos com falhas;
· Perda de gestor chave;
· Falta de energia ou água;
· Tributário;
· Crédito (clientela não paga em dia);
· Sistemas, comunicação e informação;
· Fogo ou inundação;
· Segurança cibernética (falha de sistemas, hackers, perda de dados);
· Risco de grupo (empresa ou pessoa do grupo econômico drenar caixa do negócio);
· Reputação (credibilidade);
· Trabalhista;
· Mudanças na política de subsídio;
· Surgimento de epidemia contagiosa;
· Protestos ou terrorismo afetando o banco e clientes;
· Greves e interrupções por movimentos sociais;
· Perda de time inteiro para concorrente;
· Ruptura societária.
Uma vez entendidos esses riscos, escolhemos os 10 ou 12 mais importantes para o nosso negócio e traçamos limites de tolerância para cada um deles. Na definição destes limites precisamos levar em conta o impacto das perdas que cada risco pode trazer e o custo de controlá-los.
O segundo passo envolve definirmos 2 ou 3 indicadores para cada um deles, para servir de baliza e definimos os limites aceitáveis para cada indicador.
Como exemplo, vamos mostrar alguns indicadores e seus limites que já conhecemos para cercar os riscos financeiro, de liquidez e de refinanciamento:
O terceiro passo envolve monitorar estes indicadores periodicamente e verificar se eles estão dentro dos limites pré-estabelecidos.
Um funcionário gerencial na empresa, normalmente no departamento financeiro, precisa estar incumbido de organizar informações, monitorar os indicadores, e relatar os seus níveis. Este funcionário faz o papel de “pragueiro” para os riscos que estão fora da lavoura.
Os indicadores que ultrapassarem os limites precisam estar em destaque neste relatório e precisam merecer atenção visando trazê-los para dentro da zona de tolerância novamente.
O quarto passo, portanto, envolve controlar os riscos que passaram do limite. Normalmente são necessárias uma série de ações para reduzir os riscos que avançaram.
Uma palavrinha sobre gestão de riscos
O alicerce da gestão de risco está baseado na disciplina, na transparência e na consistência das ações que os sócios de um negócio empenham no dia a dia, nas conversas com os funcionários, nas pequenas e nas grandes ações.
De nada adianta a montagem de política de limites de risco, monitoramento, relatórios e fóruns de discussão dos indicadores se não houver forte disciplina, transparência e consistência vinda dos próprios sócios.
Gestão de risco é uma das frentes de maior impacto na melhora do nível de governança de um negócio. Ela requer um empenho dos sócios em provocar o empenho dos gerentes e de todos os outros funcionários, em todas as suas ações, na forma de decidir e fazer as coisas.
Reduzir riscos, reduzir a volatilidade dos resultados, custa dinheiro, dá muito trabalho, limita a busca de oportunidades, mas justamente nos ajuda a reduzir sola com bancos, trancos, perdas: destruição de valor.
Lembre-se que, um negócio sustentavelmente competitivo depende de um equilíbrio entre realizar resultados e crescer, mantendo os riscos sob controle.
Governança existe para buscar competitividade sustentável, e não se faz governança sem um bom manejo de risco, com todos os seus custos, burocracia e impedimentos.
A jornada na busca da melhora de governança se inicia e depende dos sócios primordialmente.
Seguem abaixo alguns exemplos de limites de riscos.