Projeção de Resultados
Projetar os resultados esperados para os próximos anos é uma tarefa relativamente fácil. Ela segue a mesma trajetória apresentada na 2ª Estação, no capítulo 1.1.: “Como juntar os números para formar uma DRE pró-forma?”.
A projeção de resultados se inicia através da projeção das receitas, que é simplesmente a multiplicação da produção esperada pelos preços estimados de cada produto.
Na sequência, baseados no orçamento de campo para cada atividade, estimamos o custo de produção para toda a área trabalhada. Lembre-se de que, esses custos envolvem apenas as despesas diretamente ligadas ao custo de produção anual, e não devem incluir investimentos, pagamentos de financiamentos ou de outras dívidas. Nesta etapa, também devem incluir despesas financeiras, que entrarão mais adiante.
A etapa seguinte envolve estimar as despesas gerais e administrativas, que podem ser baseadas no que foi gasto no ano anterior, acrescido de inflação e de algum ajuste pontual de estrutura já previsto. Incluímos nas despesas gerais os gastos com arrendamento.
Neste ponto estaremos prontos para calcular EBITDA projetado para cada ano seguinte.
Depois do EBITDA estimamos as despesas financeiras através da estimativa da taxa de juros média para os próximos anos, multiplicada pelo total de endividamento oneroso (aquele que paga juros explícitos, como financiamentos bancários).
Utilize em seguida a tabela de depreciação sugerida na 2ª Estação para estimar a depreciação dos próximos anos.
Neste ponto estamos preparados para calcular o Resultado antes de imposto de renda, e então o próprio imposto de renda a ser pago e o lucro líquido como resultado de tudo isso. Novamente, veja todos os detalhes de cálculo na 2ª Estação. Segue abaixo o esquema do cálculo da despesa com Imposto de Renda.
Para auxiliar no entendimento de como uma projeção simples pode ser feita, temos dois níveis que você pode percorrer para colocar em prática:
- O aplicativo que permite rapidamente e de forma simples exercitar o preparo de uma projeção de resultado operacional;
- O modelo de planilha para exercitar de forma mais elaborada o preparo de projeções completas.
Este aplicativo tem a intenção de ilustrar de forma simplificada o processo de cálculo do EBITDA a partir da estimativa de receitas e despesas de uma safra. Baixe esse aplicativo e veja como é fácil chegar no EBITDA projetado:
Explicando a planilha
Projeção da Capacidade de Investimento
Antes de pensarmos em investir, precisamos verificar se estamos com os indicadores financeiros em ordem no ano presente. Baseados nos números do ano calculamos os indicadores financeiros chave - liquidez corrente, alavancagem operacional e capacidade de pagamento - e apenas se eles estiverem dentro de bons níveis, consideramos novos investimentos. Caso contrário, é melhor corrigirmos nossa situação presente antes de nos atirarmos em novos investimentos. Veja os testes e o cálculo destes indicadores chave na 2ª Estação.
Considerando que os indicadores financeiros chave estejam em níveis saudáveis, devemos sempre considerar novos investimentos para nos mantermos competitivos.
Podem ser investimentos em reposição de máquinas, benfeitorias, fertilidade de solo, lavouras perenes, ou podem ser investimentos para intensificação da atividade, ou mesmo para a expansão.
O planejamento dos investimentos começa pelo cálculo do que temos de recursos próprios que podem ser alocados como contribuição para estes investimentos, que serão completados com empréstimos de longo prazo.
O cálculo da disponibilidade de recursos próprios se inicia com a estimativa do EBITDA projetado.
Uma vez estimado o EBITDA projetado podemos seguir os mesmos passos apresentados no capítulo 3.3. da 2ª Estação: “Capacidade de Investimento em melhorias e crescimento”.
Lá vimos que uma forma prática de calibrar o montante que pode ser investido, uma vez que tenhamos acesso a linhas de crédito de longo prazo (acima de 5 anos), é subtrair do EBITDA projetado as despesas financeiras projetadas, as amortizações de dívidas de longo prazo que devem ser pagas no ano projetado, e as retiradas de dividendos feitas pelos sócios a partir do lucro projetado. O resultado desta sequência de subtrações do EBITDA é uma boa estimativa do recurso próprio a ser contribuído para a realização dos investimentos.
Sobre este montante de recursos próprios, podemos acrescentar outras 3 partes em empréstimos de longo prazo.
Novamente de forma prática, podemos então multiplicar o montante de recursos próprios por 4, e este será o montante que poderá ser investido no ano projetado, de forma a manter o nível de risco dentro do aceitável.
Essa abordagem assume que desse montante que poderia ser investido no ano, 25% venha de contribuição de recursos próprios a partir do EBITDA, e 75% venham de empréstimo de prazo médio acima de 4 anos.
Capacidade de investimento
Como uma boa prática de governança, esse exercício deve ser feito para cada um dos 2 ou 3 anos seguintes. Isso nos dá um rumo para priorizar oportunidades de investimento, confere transparência aos sócios e aos financiadores a respeito dos montantes que a empresa busca captar e investir, e mantém a disciplina em relação aos limites de investimento e aos projetos prioritários.
Vamos manter em mente que transparência e disciplina são dois pilares importantes de governança. Um bom plano trienal de investimento contribui para reforçar esses dois pilares.
Plano trienal de investimentos
Diante das projeções financeiras, ao verificarmos que temos capacidade de investir, pois os indicadores estão em ordem (baixo endividamento, boa liquidez e boa capacidade de servir a dívida), então chegou a hora de planejarmos os investimentos.
Para facilitar o planejamento crie uma tabela com uma listagem dos investimentos pretendidos, seus respectivos montantes e o total de caixa que se planeja empatar com esses investimentos todos. O ideal é fazer isso para cada um dos próximos anos que estão sendo projetados.
Importante ressaltar que um plano é sempre um “norte”, que ajuda a nos guiar. Naturalmente esses investimentos, seus montantes e seu timing para realização estarão sujeitos a ajustes, reajustes e mudanças com o passar do tempo.
Para facilitar ainda mais este planejamento, divida os investimentos em 3 categorias:
- Reposição: para que possamos manter o nível de tecnologia, manter o nível de desempenho e o custo de manutenção em ordem. Tipicamente envolvem reposição de maquinário, reformas de benfeitorias, recuperação de solos, renovação de lavouras perenes;
- Melhorias: para aprimorar o nível de tecnologia, melhorar desempenho, reduzir custos, incrementar receitas;
- Expansão e Novas Atividades: novas áreas em arrendamento, compra de terras, introdução de novas atividades, introdução de novos negócios.
Essa categorização obedece a certa priorização: devemos sempre repor tecnologia e renovar o parque de imobilizado existente para evitar obsolescência, e uma vez satisfeitas as necessidades de reposição, partimos para melhorias e incrementos. Novas frentes de atividades e expansões normalmente são consideradas depois que exaurimos as oportunidades de melhorias do que já temos operando. Novas frentes tendem a trazer mais riscos, e expansões tendem a demandar muito capital para imobilização e para giro.
Investimentos em reposição são essenciais para a sustentabilidade de um negócio. São até mesmo chamados de “não discricionários”: não temos escolha e precisamos fazê-los! Por exemplo: sistemas de informática demandam reposição da ordem de 20% de seu imobilizado a cada ano. Maquinário demanda reposição de aproximadamente 7% de seu imobilizado anualmente. Um canavial tende a demandar 18% de seu imobilizado em renovações anuais. Benfeitorias normalmente são mais duradouras e demandam menor nível e reposição: 5% de reposição anual. Segue abaixo um exemplo de planejamento de investimentos plurianual.
Listar os investimentos pretendidos nos ajuda a testar se o plano “cabe no bolso” da empresa, e principalmente, se a geração de caixa da empresa suporta os investimentos planejados.
É preciso retroalimentar as projeções financeiras com os valores relativos aos investimentos pretendidos e verificar se a capacidade de pagamento se mantém em níveis saudáveis.
Projetamos o EBITDA e despesas financeiras e o total de amortizações anuais que teremos a partir das dívidas de longo prazo, tanto das dívidas existentes como das dívidas que se pretende tomar para a realização destes novos investimentos.
O montante de EBITDA precisa ser ao menos 25% maior que o total projetado de despesas financeiras e de amortizações a cada ano.
Precisamos fazer simulações, ou “rodadas” de projeções, com montantes de investimentos, condições de financiamento desses investimentos, seus reflexos na geração de caixa operacional (EBITDA) em uma série de testes de capacidade de absorção desses investimentos, até que tenhamos conforto com a combinação de montantes investidos, prazo de dívidas novas e os indicadores financeiros.
Se o montante de EBITDA projetado não estiver com a folga de 25% em relação ao total de despesas financeiras e amortizações de cada ano, reduzimos os investimentos pretendidos e/ou consideramos dívidas mais longas para dar retaguarda a esses investimentos, até que tenhamos conforto com o cenário projetado. Ou seja, até que tenhamos chegado num quadro de investimentos que “caibam no bolso” da empresa.
Na 2ª Estação e mais acima vimos que normalmente a “regra de ouro” do montante de investimentos que cabem no bolso da empresa vem do uso da fórmula abaixo, que vamos repetir para reforçar: