Apuração dos resultados operacionais proj/real
1ª estação – Organização, ferramentas e controles básicos para a empresa agrícola
O último dos conjuntos de ferramental básico de gestão de um negócio agropecuário é a apuração de resultados operacionais. É uma boa prática de gestão, antes de cada safra, projetarmos o resultado operacional esperado. Posteriormente, ao fim de cada safra, apuramos o resultado operacional realizado.
Mas o que é o resultado operacional?
Trata se do resultado de caixa gerado puramente pela operação agropecuária, sem interferência do nível de financiamento, de efeitos de imposto de renda ou de eventos não-caixa, como depreciação, exaustão de lavouras perenes, custo de oportunidade do trabalho ou do capital.
Mais especificamente, trata-se do resultado obtido a partir das vendas da produção de uma safra, subtraído das despesas de campo, das despesas de administração, das despesas gerais e dos custos de arrendamento.
O resultado operacional é conhecido no mundo financeiro como EBITDA (Earnings Before Interest Taxes, Depreciation and Amortization). Em português o termo é denominado LAJIDA (Lucro antes de juros, impostos depreciação e amortização).
O EBITDA é um resultado que pode ser comparado entre operações agropecuárias semelhantes, pois sua metodologia é universal. Ele permite medir eficiência operacional e comercial entre empresas diferentes, independentemente dos níveis de financiamento, carga tributária ou regime de depreciação.
Normalmente se usa EBITDA/ha ou EBITDA% da receita para essas comparações.
O EBITDA% da receita é também conhecido como margem operacional. A margem operacional é calculada através da divisão do EBITDA pela receita do mesmo ano.
Calcular o EBITDA esperado, e ao fim do ano calcular o EBITDA realizado, e comparar o nosso resultado com o resultado de negócios semelhantes é muito importante. Esta métrica – o comparativo de EBITDA - nos permite auferir o potencial competitivo do nosso negócio.
Um negócio tende a ser mais competitivo quando o seu EBITDA é igual ou melhor do que o apresentado pelos melhores concorrentes.
Como calcular a estimativa EBITDA para a safra vindoura?
Vamos detalhar agora como calcular o EBITDA projetado para uma safra que está por acontecer.
Iniciamos pela estimativa da receita anual. A receita representa o que esperamos de vendas, ou faturamento, da produção do ano. O ponto de partida é o orçamento financeiro, o Orçamento de Receitas e Despesas, que preparamos para estimar o fluxo de entradas.
Resolvida a projeção das receitas, passamos para a projeção dos custos de produção, cujo ponto de partida também é o Orçamento de Receitas e Despesas, que também já usamos para alimentar as estimativas de saídas no Fluxo de Entradas e Saídas.
Como exemplo para você exercitar o conceito de orçamento de EBITDA, teste o aplicativo que pode ser obtido apontando a câmera do seu celular neste QR Code.
Este aplicativo tem a intenção de ilustrar de forma simplificada o processo de cálculo do EBITDA, ou seja, de orçamento do resultado operacional a partir da estimativa de receitas e despesas de uma safra.
Como calcular o EBITDA realizado?
Passado o ano, vale a pena compilar o faturamento efetivamente realizado, os gastos de campo e as despesas que tivemos. Isso vai nos permitir calcular o resultado operacional realizado.
A apuração do resultado operacional requer a compilação do faturamento do ano (produtos vendidos e entregues), e a compilação das despesas com atividades de campo, das despesas com a administração e das despesas com arrendamentos.
A receita obtida pela venda da produção do ano subtraída das despesas operacionais, de administração e de arrendamento deste mesmo ano vai gerar o resultado operacional realizado.
O resultado operacional na agropecuária é utilizado para uma série de comparativos:
· EBITDA% e EBITDA/há comparado com a concorrência
· Alavancagem operacional (que relaciona endividamento e resultado operacional)
· Capacidade de pagamento do serviço da dívida
Quais são as diferenças entre o fluxo de entradas e saídas e a apuração de resultados operacionais?
A forma e as fontes de informação para projetarmos receitas e despesas para alimentar o fluxo de entradas e saídas para o futuro, e para projetarmos resultados operacionais coincidem. Mas nem tudo que são entradas e saídas são receitas e despesas: entradas e pagamentos de financiamentos, por exemplo, não são receitas e despesas. Uma nova entrada de capital, ou uma saída para distribuição de lucros, também não são receitas e despesas.
Muito importante entendermos as diferenças entre um fluxo de entradas e saídas e uma apuração de resultados. Precisamos ter bem claro que essas duas ferramentas são diferentes, têm propósitos diferentes e trabalham com informações diferentes.
O fluxo de entradas e saídas vai nos apresentar, em última instância, o saldo de caixa bancário.
Apuração de resultado operacional vai nos apresentar o resultado do negócio do ponto de vista comercial e de produção.
O saldo bancário final não é sinônimo de resultado. Caso tenhamos a entrada de um financiamento, ou de uma venda de imobilizado, o saldo bancário será engordado por essas entradas, mas isso não quer dizer que tenhamos um resultado melhor – simplesmente entrou mais dinheiro no banco.
O resultado operacional, ou EBITDA, é fruto das vendas (receitas) menos os custos de produção, de operar e de gerir o negócio.
Por conta da obtenção do resultado operacional poderemos fazer uma série de análises. São análises distintas do que fazemos a partir do saldo de caixa bancário.
As duas ferramentas são importantes, pois elas permitem análises distintas igualmente importantes.
Quais são as diferenças de lançamentos num fluxo de entradas e saídas em relação a apuração dos resultados operacionais?
Há eventos financeiros lançados no fluxo de entradas e saídas que não são coincidentes com os eventos lançados entre receitas e despesas.
O fluxo de entradas e saídas recebe justamente os lançamentos de entradas e saídas de caixa. Todos os movimentos de caixa, nas suas respectivas datas, precisam estar lançados neste fluxo.
Já apuração de resultado operacional contém apenas os eventos relacionados à operação: venda da produção, gastos com a produção, gastos em operacionalizar os negócios e na sua gestão.
Ou seja, na apuração de resultado operacional não incluímos entrada de financiamento, pagamentos desses financiamentos, receitas e despesas financeiras, receita de venda de imobilizado, nem pagamentos por aquisição de imobilizados.
Outra diferença marcante está relacionada ao tempo dos lançamentos: no fluxo de entradas e saídas o que vale é um movimento de caixa; na apuração de resultado operacional o que vale é o evento físico voltado à safra, independentemente de quando e como a movimentação de caixa acontece. (Mais adiante veremos que trata-se da diferença entre lançarmos eventos em regime de caixa - conforme o movimento do dinheiro – e em regime de competência – conforme o evento tem a ver com a safra.)
Para apuração de resultado operacional, por exemplo, quando gastamos adubo temos uma despesa, independentemente deste adubo ter sido financiado, já ter sido pago, ou se será pago no futuro.
Distinção entre fluxo de entradas e saídas e receitas e despesas operacionais para apuração de resultado:
Cheguei no EBITDA, e o que eu faço com isso?
O resultado operacional, ou EBITDA, é um indicador muito importante. Talvez seja o indicador mais chave do potencial de um negócio.
O valor de uma empresa pode ser definido através do que se espera de geração de EBITDA!
Na administração de um negócio, utilizamos o EBITDA no controle de três frentes:
· Monitoramento do potencial competitivo: o monitoramento do potencial competitivo é feito através da comparação do EBITDA (Benchmarking de EBITDA) realizado por hectare, ou como percentual da receita, com referências de mercado. Comparamos o EBITDA do nosso negócio com o que foi obtido por outros bons produtores. Participar de grupos de benchmarking de EBITDA é muito importante, pois precisamos identificar se estamos gerando caixa operacional em linha com os melhores concorrentes. Caso contrário, precisamos tomar medidas corretivas: melhoria de produtividade, melhoria na comercialização, nos custos de produção ou nas despesas administrativas. Ocasionalmente podemos ter uma safra num nível pior que a concorrência, mas não é sustentável que um negócio gere caixa abaixo do nível da concorrência por muitos anos.
· Controle do endividamento, ou alavancagem operacional: vimos no capítulo introdutório que investir em crescimento, intensificação e atualização de tecnologia no negócio agropecuário tendem a ser fatores essenciais para sustentabilidade. Potencializamos nossa capacidade de investimento através da alavancagem financeira: uma certa dose de capital de terceiros para acelerar nossos investimentos. Porém é importante dosar alavancagem corretamente, pois excesso de alavancagem tende a levar a stress financeiro. Alta alavancagem pode até mesmo inviabilizar um empreendimento.
· Controle da capacidade de pagamento do serviço da dívida: outro indicador importante que se calcula a partir da obtenção do resultado operacional (EBITDA) é a capacidade de pagamento do serviço da dívida.
· O cálculo deste indicador demanda informações um pouco mais detalhadas sobre o endividamento e as despesas financeiras que ele gerou no ano.
· O primeiro passo é identificar todas as despesas financeiras que pagamos no ano, como os juros, tarifas e correções.
· O segundo passo é compilar o montante de amortizações, o pagamento de parcelas, que vencem no ano relacionadas a dívidas de longo prazo. Por exemplo, podemos ter prestações de máquinas vencendo no ano, parcelas de FINAME, ou prestações de aquisições de terra vencendo no ano. Todos estes valores de financiamento de longo prazo que vencem no ano precisam ser somados.
· No terceiro passo, somamos as despesas financeiras com o montante de amortizações calculados no segundo passo.
· Finalmente, estamos prontos para calcular o indicador de capacidade de pagamento do serviço da dívida: tomamos o EBITDA do ano e dividimos pelo total de despesas financeiras e amortizações.
· EBITDA / (Despesas Financeiras + Amortizações) = Capacidade de Pagamento
· Espera-se que a capacidade de pagamento tenha sempre uma folga de 30%. Ou seja, o indicador deve se apresentar acima de 1,3.
· Um indicador de capacidade de pagamento muito próximo de 1, significa que o resultado operacional estará muito justo para cumprir com as obrigações geradas pela dívida. Em casos assim, talvez seja necessária a redução do endividamento, ou ao menos um alongamento do prazo médio da dívida.
· Não é sustentável que um empreendimento tenha capacidade de pagamento sem folga por muitos anos.
Como dosar alavancagem?
Uma forma muito prática e efetiva de dosar a alavancagem é através do comparativo entre o endividamento total e a geração de caixa operacional. Em outras palavras: dividimos o total de dívidas pelo EBITDA do ano.
Iniciamos pela soma de todas as dívidas, sejam elas bancárias, originadas por compras a prazo, por trocas (barter), aquisição de terra a prazo, ou adiantamentos que obtivemos para uma entrega futura. Esse total é então dividido pelo EBITDA do ano.
Explicação detalhada de como preenhcer a planilha de Endividamento, e o que considerar para uma análise posterior
Temos uma alavancagem aceitável quando essa fração está abaixo de 3,5.
Um limite mais conservador seria ter o endividamento total menor que 3 vezes o EBITDA do ano.
Empreendimentos com alta volatilidade (com resultados sujeitos a muitos “altos e baixos”) precisam manter esse indicador abaixo de 2.
Caso a taxa de juros da economia esteja em patamares muito altos, o endividamento total deve ser menor que 2 vezes o EBITDA do ano.
O indicador de Endividamento/EBITDA ligeiramente acima de 4,5 é apenas aceitável em casos que envolvam investimento recente, que espera-se gerar EBITDA adicional nos anos seguintes e financiado por empréstimo com prazo médio relativamente longo.
Convém monitorar anualmente o indicador de endividamento total dividido pelo EBITDA e buscar mantê-lo abaixo de 3,5.